Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.
(Eduardo Galeano)
GOMES, Róger Walteman
A sociedade do século XXI está vivenciando um período marcado pelas transformações, advindas, principalmente, do grande avanço tecnológico, no qual se pode visualizar o surgimento de um meio técnico-científico informatizado e disseminado pela globalização capitalista.
Nesse contexto, a educação se insere como instrumento relevante para o propósito de mudança das questões socioeconômicas do capitalismo, que criam mazelas que perduram há séculos. Neste sentido, a educação tem, tornando-se a alavanca propulsora de um mundo mais justo. Entretanto, o que se vivencia é, na sua maioria, uma educação mecanicista, incapaz de transformar informações em conhecimento transformador da realidade, especialmente nas suas mazelas sociais e ambientais.
É preciso identificar as causas da crise socioambiental e não apenas constatar os seus efeitos perceptíveis, as suas externalidades. Nessa perspectiva, “(...) o fato de sermos uma espécie biológica não esgota o ser humano enquanto ser social; ou seja, um ser complexo construído pelas relações entre biológico, o cultural, o econômico, o político e o histórico (...)” (LOUREIRO, 2004, p. 37).
Neste sentido, Edgar Morin (2006, 2007) direciona para um pensamento situado no campo da complexidade e da leitura do mundo a partir de uma totalidade crítica, dialógica e aberta. Em seus escritos, ele traz uma contribuição necessária para refletirmos o modo como a educação está sendo desenvolvida em nossos sistemas de ensino atual. Dessa forma, através de um novo paradigma não reducionista e não mecanicista, descomprometido com a produção e acumulação e das desigualdades no bojo da sociedade capitalista. Desta forma, Loureiro (2004) afirma que:
(...) Ignorar a complexidade de tal cenário e a impossibilidade de se revolucionar a sociedade no planeta por meio dos caminhos “somente éticos”, “somente científicos” ou “somente educativos”, é reproduzir, sob diferentes roupagens e às vezes belos discursos, o que existe e o que ameaça a própria vida (...) (p. 48)
Nessa perspectiva Freire (1996) faz referência ao pertencimento como membro ativo no mundo
(...) O fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me põe numa posição em face do mundo que não é de quem nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da história (...) (p. 54)
Podemos dizer que esse é o maior objetivo a ser alcançado, pois ensinar só por ensinar não se faz suficiente nos tempos atuais em que a transformação social não pode ceder à pressão comodista da inércia e da alienação geradas por certo ambientalismo cosmético cultivado pela mídia e por uma visão centrada apenas no marketing ecológico. A educação direcionada para a libertação da exclusão, da violência simbólica, da seleção do modelo darwinista social neoliberal, que o mundo atual nos impõe se faz necessário em prol da construção do sujeito crítico-reflexivo e transformador.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LOUREIRO, Carlos Frederico B. Trajetória e fundamentos da educação ambiental. São Paulo: Cortez, 2004.
MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro. SILVA, Catarina Eleonora F. da; SAWAYA, Jeanne. (trad.) 11. Ed. São Paulo: Cortez, 2006.
MORIN, Edgar. In: Educação e complexidade: os setes saberes e outros ensaios. ALMEIDA, Maria da Conceição de; CARVALHO, Edgar de Assis. (orgs.) 4. Ed. São Paulo: Cortez, 2007.