terça-feira, 2 de outubro de 2012

A SITUAÇÃO DO NEGRO

Uma pequena amostra da situação dos escravos nos navios negreiros a partir de um trecho dos escritos do "Navio Negreiro" de Castro Alves.

Navio Negreiro

Castro Alves

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço   
Brinca o luar — dourada borboleta;   
E as vagas após ele correm... cansam   
Como turba de infantes inquieta.   
'Stamos em pleno mar... Do firmamento   
Os astros saltam como espumas de ouro...   
O mar em troca acende as ardentias,   
— Constelações do líquido tesouro...   
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos   
Ali se estreitam num abraço insano,   
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...   
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...   
'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas   
Ao quente arfar das virações marinhas,   
Veleiro brigue corre à flor dos mares,   
Como roçam na vaga as andorinhas...   
Donde vem? onde vai?  Das naus errantes   
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?   
Neste saara os corcéis o pó levantam,    
Galopam, voam, mas não deixam traço.   
Bem feliz quem ali pode nest'hora   
Sentir deste painel a majestade!   
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...   
E no mar e no céu — a imensidade!   
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!   
Que música suave ao longe soa!   
Meu Deus! como é sublime um canto ardente   Pelas vagas sem fim boiando à toa!   
Homens do mar! ó rudes marinheiros,   
Tostados pelo sol dos quatro mundos!   
Crianças que a procela acalentara   
No berço destes pélagos profundos!   
Esperai! esperai! deixai que eu beba   
Esta selvagem, livre poesia   
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,   
E o vento, que nas cordas assobia...   
..........................................................   
Por que foges assim, barco ligeiro?   
Por que foges do pávido poeta?   
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira   
Que semelha no mar — doudo cometa!   
Albatroz!  Albatroz! águia do oceano,   
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,   
Sacode as penas, Leviathan do espaço,   
Albatroz!  Albatroz! dá-me estas asas.   

Nenhum comentário: